Antes mesmo de o dia raiar, já havia me levantado e tomado à primeira refeição do dia e fui à sacada do meu quarto. Aquele dia era promissor, o Sol parecia que iria dizimar as nuvens carregadas e o vento o ajudava soprando-as para o Sul, para além das fronteiras de Du Weldenvarden.
Era um ótimo dia para começar um treinamento longo que já havia planejado. Então me troquei, coloquei uma roupa leve para o treinamento e peguei meu arco e minha aljava e fui ao centro de treino que havia em Ellésmera. Chegando lá já havia alguns elfos e elfas que pelo jeito já treinava a um bom tempo. Então fui a uma clareira onde comecei a fazer o Rimgar.
O exercício consistia em alongar muitas partes do corpo, mas nem todas me haviam acostumado ainda fazendo com que certos músculos gritassem de dor quando mudava para posições específicas. Após alguns exercícios para os músculos da barriga e costas, passei a alongar minhas pernas, sentei-me no chão e tentei encostar a ponta de meus dedos da mão à ponta dos dedos dos meus pés, depois cruzar os braços – o braço direito tocando a perna esquerda e vice-versa – os músculos irradiavam calor quando permanecia mais de um minuto na posição. A pressa era inimiga da perfeição então ficava em uma determinada posição e permanecia entorno de dois a dez minutos nela, o que poderia ser fácil de começo o tempo fazia se complicar e trazia consigo a dor e o suor brotava da minha pele e formava pequenos rios no meu rosto e pelo meu corpo devido ao esforço. No final do Rimgar eu já estava suado e muito cansado, muitos dos meus músculos gritavam de dor e estavam pesados e se recusavam a me obedecer de imediato, mas apesar disso iria continuar meu treinamento, porém já estava no Alto Sol, e meu estômago já reclamava.
Fiz um almoço rápido, e voltei ao centro do campo. Lá achei um jovem elfo que estava sentado a uma mesa onde havia um jogo parecido com xadrez, mas na versão dos elfos – peças onde tinham os elfos, humanos, dragões e anões como os peões. O jovem jogava sozinho, por isso me dispôs a jogar com ele. O jogo começou monótono, mas seu desenrolar foi surpreendente já que o jovem – chamado Ilduin – fez jogadas de riscos onde perdeu uma série de peças, mas logo conseguiu se aproximar do meu rei. Por minutos pensei em várias possibilidades e mentalizei todas minhas jogadas.
“Este garoto era muito inteligente, mas negligente, já que perdeu muitas peças para chegar a este ponto. Se eu mexer minha torre, num movimento de Roque, seu ataque seria inútil, mas ele já deve ter pensado nisso... Ou não... “ – Pensava calculando cada movimento.
- Queria saber o que se passa em sua cabeça jovem Ilduin, para fazer tais jogadas negligentes. Estou com seis peças a mais que você e em melhor condições de defesa e ataque. – Falava num tom de reflexivo.
- Caro Aelthas, não se vence sem certos sacrifícios... Porém neste jogo fiz mais sacrifícios do que imaginava e por isso me compliquei, por isso já refiz todas minhas jogadas com o que tenho. Nem que tiver meu rei e mais uma peça tentarei te vencer. - O jovem se convencia de tais feitos.
Então o silencio pairou durante o restante do jogo e a cada jogada eu perdia uma peça juntamente de Ilduin, até que por fim numa estratégia que unia um sacrifício, uma armadilha e um disfarce consegui driblar as defesas de Ilduin e o venci após três horas de jogo. Caso levasse mais uma ou duas jogadas quem iria vencer seria ele.
- Muito bom Ilduin, continue assim e antes que complete os quarenta anos será um ótimo estrategista! – Então me afastei da mesa e fui ao centro de treinos de arco e flecha.
O garoto me deu muitos motivos para pensar, e novas estratégias surgiam em minha mente. Peguei o arco com a mão esquerda e sacava uma flecha com a direita. Fiquei em posição lateral e ergui o arco, mantendo meu braço do arco na altura do meu ombro e ajeitei meu cotovelo puxando-o para dentro, encaixei a flecha ao centro do arco com minha mão direita e puxei. Por dez segundos permaneci naquela posição, como se fosse uma estátua no meio da clareira, e em tempo um feixe de luz saiu do meio da copa da árvore iluminando meu alvo, que de imediato soltei minha flecha, e foi em direção ao coração do circulo. Assim abaixei meu arco e averiguei à distancia, devia estar a uns quinze metros. Afastei-me na mesma distância, mantendo trinta metros do alvo, então novamente fiz o mesmo processo. Desta vez o tiro saiu mais para a direita.
“Estou pensando em coisas demais, devo me tranquilizar e pensar somente no meu alvo e nos detalhes do tiro. Vento, luz, centro do alvo, respiração...” – Então fui respirando mais tranquilamente e foquei no que tinha que fazer e por duas vezes um forte vento soprou e fez as flechas perderem sua força, porém os outros dez tiros foram no alvo. Ao final dos dez tiros meu braço esquerdo doía muito, devido a força necessária para os tiros e o Rimgar. Então tentei inverter e atirar com o braço esquerdo, o resultado foi mais um braço que doía muito e de dez tiros quatro acertaram.
Após uma hora de descanso novamente voltei a atirar, só que desta vez iria treinar tiros rápidos, então formava a posição lateral, levantava o braço do arco na altura do ombro, movia meu cotovelo, e inspirava, expirava ao mesmo tempo em que soltava a flecha. Atirei até que as fechas em minha aljava acabaram. Então fui buscá-las e as coloquei na aljava, fui ao outra clareira onde havia alvos em todas as direções.
Desta vez meu objetivo era acertar os corações dos círculos, então coloquei minha aljava nas costas e imaginei aqueles alvos como Urgals que vinha em minha direção e minha única chance de sobrevivência seriam acertando seus corações, no total eram vinte.
Em total concentração, o silêncio daquele local também era muito propício, sacava uma flecha e atirava, dava um passo ao lado e sacava uma flecha e atirava e realizei tais movimentos até completar os vinte alvos. Os resultados às vezes eram excelentes, outras terríveis, no entanto minha habilidade havia melhorado muito, de vinte havia acertado quinze no alvo central.
Por fim peguei as flechas, as coloquei novamente na aljava e fui em direção a minha casa descansar os músculos que rangiam de agonia e uma ligeira dor de cabeça me afugentava de mais treino, onde um bom banho, uma cama e alguns livros poderiam ter ótimos resultados curativos.