Devastando a cidade de Ceunon

Finalmente a imensa floresta de Du Weldenvarden tinha ficado para trás, agora era um dragão livre para fazer o que bem entendesse quando desejasse fazer. Depois da revolta de Lothar ainda havia ficado um tempo próximo aos elfos para saber o que estes planejavam para vingar a morte de meus irmãos de sangue, no entanto, seus planos não pareceram ser dignos de minha presença, estes estavam se escondendo entre suas grandiosas árvores na tentativa de evitar que mais sangue fosse derramado. Isso era uma ofensa aos dragões mortos pelo cavaleiro-assassino-sem-alma.

Havia entrado em fúria quando soube que aqueles seres-de-orelhas-pontudas queriam que eu me tornasse um dragão-de-cavaleiro. Não poderia admitir ofensa maior e para evitar que fosse “escravizado” voei o mais rápido que pude, assim, fugindo daquele lugar prometendo a mim mesmo que um dia retornaria e devastaria toda aquela raça inferior. O mesmo faria com os humanos já que estes também eram capazes de se tornarem cavaleiros.

Agora me encontrava nas redondezas da pequena cidade de Ceunon aguardando o chegar da alvorada que já estava bem próximo. Observava a cidade de longe do meio de um aglomerado de árvores mantendo minha presença oculta nas sombras, queria saber o que aqueles seres-de-orelhas-redondas fariam para proteger sua cidade, pois não pretendia ser capturado e morto ao atacar um lugar tão desprotegido e fraco. Estudava atentamente a movimentação dentro e fora da cidade, caso houvesse, me preparando para atacar e dizimar aquela população.

“Começarei destruindo essa cidade e logo partirei para a próxima e depois para a seguinde até alcançar Eoam forte o suficiente para fatiar aquele cavaleiro-assassino-sem-alma. Lothar.”

Meu sangue fervia em frenesi implorando pelo sangue de Lothar, porém, Eoam estava muito distante e não pretendia chegar lá sem ao menos conseguir cuspir fogo e enquanto não soubesse faze-lo iria dizimando tudo em meu caminho tanto para passar o tempo quanto para me tornar mais forte e assustador aos olhos dos seres terrestres.

Os primeiros raios de luz surgiam no horizonte já iniciando a clarear a cidade de Ceunon, minha intenção era de atacar o lugar enquanto ainda fosse noite, mas deveria ter planejado e pensado demais enquanto esta passara. Já começava a ficar impaciente quando, enfim, os turnos dos vigias terminaram. Olhar aqueles pequenos bípedes-da-terra deixar seus postos só porque era manhã não parecia ser inteligente, eles deveriam se achar a espécie mais poderosa e estarem muito certos de que não seriam atacados pela manhã só por terem uma pequena e inútil muralha.

"Humpf! Humanos..."

Já me preparava para atacar quando notava vozes do meio das árvores e cada vez mais perto de mim. A primeira parecia ser de um humano macho e a segunda de um humano fêmea, embora esta parecesse ser ainda um filhote.

Olha papai, eu sou um dragão!

Haha, sei. Eu vou te dar para os dragões se não vier logo menina.

Ouvia as últimas palavras já a menos de dez metros de mim, aquilo parecia estar ficando perigoso para meu plano-perfeito-de-devastar-Ceunon. Matar aqueles dois seria fácil, porém, um deles provavelmente chamaria a atenção da cidade, já bem próxima, e alertar aos soldados.

"O filhote já está bem próxima, posso matá-los e seguir para a cidade ou seguir para a cidade e deixá-los..." - ao colocar a ponta da língua para fora por entre meus dentes meio abertos notava o cheiro de carne, eles pareciam estar levando algum animal morto para dentro da cidade - "Então o macho é caçador. Pode ser um erro deixá-lo aqui e este vir a me atingir depois. Ainda assim..." - um sentimento de remorso nacia dentro de mim e me fizera lembrar como meus genitores foram mortos desonrosamente assim como aquele homem estava prestes a ser por minhas garras. - "Então apenas espantarei esses infelizes. Daqui segurei para Ceunon e devastarei isso que eles chamam de 'cidade protegida'."

Com movimentos rápidos saia do meio dos arbustos e árvores ao meu redor e saltava de forma que árasse na frente dos dois que se aproximavam. Logo após soltaria um grande e longo rugido na direção destes na tentativa de espantá-los, assim, fazendo-os correr para o mais longe que pudessem na direção contrária a da cidade. Depois daria meia volta e, em alguns passos e batidas de asas, voaria na direção da cidade. O novo plano era rodeá-la em busca de mais informações sobre sua atual condição - número de homens se movendo, quais armas portavam, que lado parecia mais adequado (com menos ou nenhum arqueiro ou lanceiro) e as demais formas que poderia utilizar para destruí-la. Além disso, também buscaria por pedras enormes as quais poderia utilizar para jogar sobre os soldados e casas, caso não encontrasse nenhuma teria que arrancar troncos de árvores para fazê-lo. No fim adentraria pelo local mais adequado e começaria o ataque mais direto, neste usaria minha calda para esmagar e acertar, minhas garras para fatiar e destruir e minha mandíbula para destroçar e saborear.

Bandos de passaros voaram para o horizonte quando as árvores se sacudiram e a besta colossal saiu do emaranhado. A sombra rapidamente passou sobre as pessoas que iam a caminho de Ceunon na manhã, e no mesmo instante pararam. -Papai! -A garotinha gritou correndo em direção ao homem que nem prestou atenção na mesma, apenas soltou as cordas e deixou a carne morta do javali cair na grama úmida. Quando Euron pousou a frente dos humanos, soltou um estrondoso rugido, que fez algumas mechas do negro cabelo do caçador irem para trás. O álito do dragão estava podre, com cheiro de carne crua, sangue. Cheiro da morte. Se o homem não se encolhesse com as mãos na cara quando o dragão tentou amedronta-los, ele teria visto os nacos de carne entre suas presas. A garota estava logo atrás, bem mais próxima, olhando com os olhos inchados aquela cena, enquanto o pai caia deitado no chão temendo a morte. Mais parecia um misero servo agraciando o soberano. Pobres formigas mortais.

Um liquido amarelado começou a escorrer pela roupa da garota, precisamente entre suas pernas, e se apossou nos seus pés. Aquilo era urina, e fedia a medo. Gotas de lágrimas brotaram de seus olhos e sua cara se fechou. Ela contraiu o corpo e torceu a boca. -ÁÁÁÁÁÁÁáááááááááááááááááááááááá... A garota só gritou, com todas as forças gritou, até que caiu no chão desmaida. Molhando a roupa e até uma mecha dos cabelos na forma úmida do puro pavor. No momento, o pai da criança olhou para trás assustado em busca da sua filha e se apavorou ao vê-la caida. Puxou a lâmina que tinha na cintura e com as pernas tremulas se levantou e correu na direção de Euron que já se preparava para levantar voo. Seria difícil, mas não impossível o caçador dar um pequeno rasgo no dragão-prata. Talvez ele devesse dilacerar aqueles humanos ao invés de tentar apenas amedrontá-los.

Aquele grito que a criança deu poderia ser o suficiente para Ceunon levantar guarda agora mesmo, sendo ou não a menor possível. Um bater de asas seria crucial agora que... Euron ouve um longo barulho de cornetas por detrás das muralhas da cidade.

A situação não parecia muito boa, o homem vinha em minha direção e Ceunon estava de guarda após, provavelmente, ter ouvido meu rugido. Não pretendia matar aquele ser, mas saber que o ataque não seria mais uma surpresa me deixara tão irritado que cancelei minha ida misericordiosa e parti para cima do mesmo. Fui na tentativa de lhe acertar lateralmente, da direita para a esquerda, com uma forte pancada usando minhas garras de meu membro direito. Isso poderia fatiá-lo de uma vez ou, ao menos, derrubá-lo evitando qualquer problema. No caso de falhar daria outro rugido para tirar a concentração do homem, tentando assustá-lo tanto que cancelaria outros ataques, e depois disso finalizaria mordendo e matando minha fome com o mesmo.

"É meio nojento comer humanos por serem tão sujos, mas não quero partir apra a batalha com o risco de sentir fome. Isso já serve." - pensava enquanto me satisfazia, no caso de tudo dar certo já que o faria de qualquer maneira. - "Levarei essa garota como refém para evitar que atirem flechas em mim, quando houver sobrevoado toda a cidade a atirarei para eles do alto e pronto." - concluía alegre.

Assim o faria, seguiria para a cidade levandoa garota em minhas patas dianteiras e a sobrevoaria com a intenção de conhecer as formações, as quantidades e possíveis fraquesas. Além disso procuraria algum lugar de onde pudesse extrair pedras e troncos para atirar na próxima fase de meu plano.